segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Maratona Caixa de Santa Catarina




Eu esperava por sol e tempo firme para poder aproveitar o final de semana e "salgar" o corpo em uma das belas praias de Florianópolis, mas foram dois dias que antecederam a maratona de tempo chuvoso e nublado. Na sexta-feira, depois de sair de Porto Alegre e rodar por mais de seis horas em direção a capital catarinense a temperatura baixa dava mostras do que estava por vir, para o desespero total da minha esposa. Atravessamos a ponte rumo a ilha na direção do centro na hora do rush, muito movimento e agito, normal para uma sexta. A reserva no hotel já estava feita, bastava agora procurar um lugar para jantar e depois descansar. Sábado amanheceu nublado, mesmo assim fomos dar um giro pela lagoa da conceição, praia mole, barra da lagoa e rio vermelho. Perto do meio-dia a fome bateu forte e decidimos para o almoço que comeríamos camarão...
Camarão no restaurante Boka's(800gr)
Antes de termino do almoço, a chuva apareceu e demos por encerrada a volta na ilha. Partimos em direção ao shopping para pegar o kit da prova.  Também decidimos assistir ao filme, "O tempo e o Vento", já que do lado de fora o clima não ajudava. Fomos dormir cedo já que outro dia eu estava prestes a ficar em torno de quatro horas correndo. O dia amanheceu limpo, lindo e ensolarado, para minha surpresa. Tomei uma ducha demorada e partimos em direção passarela Negrinho Quirido, local da largada. Antes de entrar na fila para retirada do chip avistei uma mulher com a camiseta do grupo Baleias. Ela também me viu... caminhou em minha direção e se apresentou:
- Oi tudo bem, sou a Marines, de Recife.
Antes que eu me pronunciasse ela falou:
- Tem mais um casal com o Manto Coral do outro lado da pista.
-Vou até lá chamar eles.
 Enquanto aguardava a volta da Marines, na fila, olhava ao meu redor a estrutura montada para o evento. Estande dos patrocinadores da prova com distribuição de brindes, palco para a premiação, equipes de corrida iniciando o alongamento, pessoas registando o momento com suas câmeras digitais...tudo na sua normalidade.
Chega a Marines acompanhada do casal Ricardo Passos e Gi Albertini, ambos de Santa Catarina.

Time Baleias na Maratona de Santa Catarina formado por Marines Melo de Recife, Mauro Rosa de Porto Alegre e o casal Ricardo Passos e Gi Albertini de Florianópolis

Apresentações feitas, chip no tênis, sachês de carboidrato no bolso e céu azul...faltando menos de vinte minutos para começarmos a correr era hora de concentrar para o inicio da "peleia". Na edição deste ano realizada na capital do estado de Santa Catarina, foram 2.200 atletas de vinte estados e de cinco diferentes países, divididos em seis categorias. Mesmo com o número de inscritos ultrapassando 2.000 atletas a participação na maratona foi de cerca de 430 corredores, credito a  baixa de participantes maratonistas a concorrência, pois nesta mesma data foram realizadas a Maratona de Foz, a Maratona Maurício de Nassau e ainda a Maratona de Berlim, que sempre tem um contingente muito grande de brasileiros. Além é claro, da Maratona de Punta del Este realizada no final de semana anterior.
Com percurso quase que em sua totalidade plano, a Maratona Caixa de Santa Catarina é considerada juntamente com a Maratona de Porto Alegre, uma das provas mais velozes do calendário de corridas de rua do país. A excelente hidratação durante todo o percurso e o clima em Floripa, nesta época do ano ajudam muito a quebra de recordes pessoais.
A corrida teve o seu inicio com pontualidade britânica, com todas as categorias largando no horário marcado sem atraso ou outro tipo de confusão. Eu larguei no pelotão intermediário ao lado do estreante em maratonas, o amigo Ricardo Passos, mas antes de passarmos pelo tapete ele já se encontrava alguns metros a minha frente fazendo uma saída forte. Marines optou por largar no pelotão do fundo e a Gisele, largaria as 8h, na prova de 10k.
Ricardo em sua primeira maratona fez um tempo abaixo de 3h20 e a Marines levou o troféu de quinto lugar na categoria
Estava me sentindo bem e confiante em realizar uma boa prova, já que meu amigo, professor e parceiro nós treinos, Roberto Pacheco havia elaborado uma planilha voltada especificamente para esta corrida. Minha estratégia era simples, dividir a prova em duas etapas: uma parte forte e a outra fraca. Sabia que estava bem treinado, mas também tinha certeza que as minhas companheiras nas provas apareceriam no 29km ou 32km. Até o final da primeira passagem pelo túnel foi de aquecimento e procura do ritmo ideal. Encontrei o pace certo no 4km, junto com um trio de paulistas
que estavam animados e contando piadas. Fomos rodando e de forma gradativa aumentando a aceleração até chegarmos a 4:37 de ritmo. Para mim estava tudo perfeito, temperatura de 21 graus, correndo a beira-mar, ouvindo os causos contados pelos meus companheiros...mas como tudo que é bom acaba, eles resolvem a partir do 18km baixar o ritmo para 4:20. Tudo estava bom até minha velha amiga câimbra resolver dar as caras no 30km. Mas o jogo já estava ganho pois havia acumulado "gordura" e agora poderia me dar ao luxo de intercalar caminhada e corrida. Diminui bastante o ritmo mas continuei correndo pois no 32km, sabia que haveria um estimulo extra, pois o trajeto da prova obrigava a galera da maratona a desfilar pela passarela onde foi dada a largada e lá tinha muito gente incentivando os participantes. Foi uma grande sacada da organização pois os atletas tem o animo renovado pelos gritos da massa, além de receberem esponjas encharcadas com água gelada. Fez muito bem para mim e acredito para muitos outros competidores, mas depois do passeio pelo sambódromo, resolvi caminhar durante a passagem pelos postos de hidratação e voltar a correr logo depois afinal ainda faltam 10k. Com esta tática as dores foram diminuindo mas tinha que manter o ritmo lento pois uma única acelerada e voltam as câimbras e as dores. Segui assim até a última travessia pelo túnel, faltando cerca de 1km para fechar a prova ganhei uma "carona" no ritmo do paulistano Ronan Damião. Conversando fomos até a linha de chegada para encerrarmos a Maratona
Caixa de Santa Catarina edição 2013.
Completando a Maratona ao lado do leitor do blog e amigo Ronan Damião

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Quando e como reduzir o treino antes de uma maratona


Os corredores já sabem da importância de se reduzir a carga de treinamento (quilometragem e intensidade da corrida) antes de uma competição. Se o treinamento prevê melhoras no condicionamento físico ao longo do tempo, é certo também que produz a fadiga, um indicador fiel das possibilidades individuais.



Assim, ao preparar-se para uma corrida importante, o corredor deve encontrar o equilíbrio e a quilometragem percorrida e o ritmo (intensidade) em que a corrida é realizada e durante quanto tempo isso deve ser feito, e quando deve haver uma redução desses parâmetros. Somente desse modo será possível obter a melhor forma para a prova, ou seja, eliminar toda a fadiga proporcionada pelo treinamento (tanto física como mental) e estar apto para o melhor desempenho no dia decisivo.

As diversas pesquisas existentes na área do treinamento esportivo apontam que uma redução na quilometragem por duas ou três semanas antes de uma maratona é de grande importância para uma melhora no resultado competitivo. Porém, qual é a forma mais eficiente de diminuir o treinamento antes de uma corrida importante?

AS EVIDÊNCIAS E AS EXPERIÊNCIAS. A investigação científica e a experiência de atletas e treinadores mostram que, para uma maratona, o ideal é que a quilometragem seja reduzida a partir de três semanas antes da competição. Por exemplo, um maratonista poderia reduzir sua quilometragem em 20% na terceira semana antes da maratona, 40% na semana seguinte e 60% na semana da corrida, podendo com isso, obter uma melhora no desempenho em torno de 3%.

Entretanto, ainda não há um consenso entre cientistas, treinadores e atletas em relação ao tempo de recuperação antes de uma competição, pois estamos tratando de biologia que, ao contrário da matemática, não é uma ciência exata.

As diferenças individuais (individualidade biológica) são determinantes para uma exata compreensão de todos os fenômenos e ajustes bioquímicos que ocorrem no corpo humano. Isso dificulta o entendimento sobre os aspectos relacionados ao tempo necessário para uma completa restauração física e mental, de forma que o atleta entre na competição com a sua máxima possibilidade de desempenho.

A dúvida que sempre assalta os corredores, portanto, é: quando iniciar a recuperação, ou o descanso ativo? Pela nossa experiência como treinador, acreditamos nos seguintes pontos fundamentais para a solução dessa questão:

- O tempo de treinamento do corredor e a sua experiência.
- A idade do corredor e o seu estilo de vida (alimentação, sono, trabalho, lazer, família).
- A quilometragem acumulada para a competição em questão e o tipo de treinamento realizado.
- Períodos de descanso intermediário.
- A resposta do organismo aos estímulos do treinamento (ajustes biológicos).

Se estas questões forem bem compreendidas e consideradas no momento da elaboração do plano de treinamento para a competição, acreditamos que o treino possa apresentar inúmeras possibilidades para o seu desenvolvimento, permitindo ao treinador e ao atleta uma excelente planificação.

A PREPARAÇÃO IMEDIATA PARA A COMPETIÇÃO. Muitos corredores são capazes de participar de duas maratonas em um período de tempo de apenas sete dias, mantendo o mesmo nível de desempenho em ambas. Assim, seria possível fazer o último treino longo uma semana antes da maratona? Acreditamos que sim, desde que o corredor observe algumas regras importantes que estão relacionadas ao sono, alimentação, estresse social e profissional e à própria estrutura da planificação do treinamento.

Uma maneira de se fazer isso, sem prejuízo ao rendimento, é aquilo que chamamos de "preparação imediata para a competição", que nada mais significa que aumentar gradativamente, semana a semana, a quilometragem do treino longo, culminando com a maratona.

Veja o exemplo de periodização para a maratona, conforme o princípio do ciclo imediato para a competição:
Condicionamento: 22 km
Condicionamento: 24 km
Condicionamento: 26 km
Competição: 21 km

Condicionamento: 28 km
Condicionamento: 32 km
Condicionamento: 36 km
Competição: 42 km

Este ciclo imediato para a competição é dividido em dois períodos de 3 x 1: no primeiro, temos três semanas de condicionamento, onde a quilometragem do treino longo é elevada gradativamente, sendo que na quarta semana, haverá uma competição ou um treino forte na distância de 21 km, onde o corredor deverá buscar o seu melhor ritmo competitivo. No segundo período, novamente temos três semanas de condicionamento, com um novo aumento da quilometragem do treino longo, sendo que na quarta semana o corredor alcança o pico da quilometragem ao percorrer os 42 km da maratona.

A periodização composta pelos ciclos imediatos para a competição pode ser realizada por qualquer corredor experiente A vantagem desse sistema de cargas crescentes é que o corredor pode optar por realizar os dois períodos do ciclo (para os corredores que necessitam de um pouco mais de rodagem), ou apenas um único período, o último, para os mais treinados. Ou seja, é possível fazer a maratona com apenas 4 ou 8 semanas de treinos específicos para quem já apresenta um bom nível de rodagem.

Assim, longe de ser uma questão mitológica, podemos mostrar que é possível a realização de um trabalho de recuperação tanto seguindo os parâmetros tradicionais (de três semanas com redução da carga), como inovando na estrutura do ciclo de preparação (sistema de cargas crescentes), o que deixa claro que não há uma verdade exclusiva e universal em se tratando de treinamento esportivo e que tudo está aberto a novas experimentações. Em ambos os casos os corredores irão obter os benefícios de um bom planejamento e estratégia de treino.

fonte:
http://revistacontrarelogio.com.br/materia/quando-e-como-reduzir-o-treino-antes-de-uma-maratona/

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Boa leitura - corrida de rua

Vanderlei Cordeiro de Lima

" A MARATONA DE UMA VIDA"
Capa do livro

Foi meu primeiro livro de corrida (antes, tinha publicado em 1976 o “Abertura 1812”, de contos). Nele conto minha trajetória de completo sedentário militante a ultramaratonista, fazendo aventuras por locais com a Grande Muralha da China, montanhas e vales do interior da Austrália e caminhos pelo litoral da África do Sul. Correr vira um aprendizado de vida.


Já o “+CORRIDA” traz experiências diversas. Além de relatos de provas que provas que enfrentei, trago entrevistas originalmente publicadas no meu blog e ainda filosofadas sobre o ofício de colocar uma perna depois da outra, um passo depois de outro o mais rapidamente possível. Entre as personalidades que me deram a hora de entrevistá-las estão o ex-recordista mundial da maratona, Ronaldo da Costa, e a única brasileira que participou da primeira maratona olímpica feminina, Eleonora Mendonça.
Bueno, está feito o convite. Passe adiante.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Show e boas notícias!

Esta semana resolvi dar uma pausa nos treinos e curtir um pouco a noite. Fui com minha esposa assistir ao show da cantora americana Alicia Keys, que empolgou e colocou todos para dançar durante uma hora e quarenta minutos aqui em Porto Alegre, no encerramento da sua turnê. Depois de encantar a galera no Rock in Rio com sua simplicidade e beleza, ela e sua banda fizeram uma apresentação sensacional, misturando vários sucessos da sua carreira.
Alicia Keys no show em Porto Alegre

Alicia Keys, sempre linda!
Eu e minha amada, esperando o inicio do show



Além do show, recebi a ótima noticia da aprovação da minha inscrição para a prova mais longa do estado. A difícil Travessia Torres-Tramandaí, que acontecerá em janeiro de 2014. Em sua 10ª edição a Ultttra, organizada pelo SESC/RS e pelo Clube de Corredores de Porto Alegre, não é dedicada apenas para Ultramaratonistas, existe a participação em equipes de oito, quatro e dois indivíduos. Atletas inscritos na categoria individual percorrem toda a extensão da prova (81.240m), que é realizada no litoral gaúcho.
Agora é dedicação total aos treinos...mas antes ainda tenho o compromisso de fazer uma boa corrida na Maratona da Santa Catarina no último final de semana de setembro.
Será que vai rolar praia?

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O caso da corredora incansável

Depois de passar por uma cirurgia no cérebro, Diane Van Deren, 52 anos, esquece a distância que está percorrendo e atrasa a chegada do cansaço

                                           
O nosso cérebro é realmente responsável por coisas incríveis. O caso da americana Diane Van Deren mostrado na edição do Esporte Espetacular é realmente fantástico. Como foi mostrado na matéria, ela era portadora de um foco epilético no lobo temporal do cérebro, área responsável pelo mecanismo da memória recente. Para tratar a epilepsia ela se submeteu a uma cirurgia que removeu tecido nervoso desta área. Os sintomas da epilepsia desapareceram e ela passou a ter uma vida normal.

É realmente um exemplo extraordinário da influência do chamado poder mental no desempenho. A competência de administrar este “cansaço psicológico” pode ter realmente enorme influência no rendimento físico.
O déficit que ficou foi um prejuízo parcial do mecanismo da memória de curto prazo, que não causa problemas maiores, diante do enorme benefício proporcionado pela cirurgia. Um dos hábitos que ela passou a cultivar foi a corrida de longas distâncias. Diane se tornou uma ultramaratonista passando a obter resultados muito significativos em provas de longas distâncias. Seus resultados foram particularmente incríveis, porque ela passou a superar todas as concorrentes femininas com 53 anos de idade.
Logo surgiram questionamentos sobre que tipo de benefício ela havia adquirido havendo até questionamentos se ela não teria vantagem em relação às demais corredoras. Na verdade, podemos entender melhor o caso da atleta abordando o mecanismo da fadiga. Consideram-se existir dois componentes: A fadiga periférica e a fadiga central.
Diane Van Deren (Foto: Reprodução / TV Globo)Diane Van Deren: corredora incansável é um caso
único no esporte (Foto: Reprodução / TV Globo)
A fadiga periférica tem origem nos mecanismos metabólicos dos músculos, decorrentes do acúmulo de ácido láctico, do esgotamento dos estoques de glicogênio, e também de fatores fisiológicos sistêmicos, como desidratação, perda de sais minerais e etc.
Estes mecanismos da fadiga periférica são antecipados quando a intensidade da corrida é maior, como nas provas de 10km, meia maratona, etc. No caso da Diane, este mecanismo não sofreu nenhuma alteração, ou seja ela tem o mesmo cansaço físico que qualquer outra atleta. Nas provas mais longas, como as ultramaratonas, a fadiga periférica também está presente, porém ela é retardada pela intensidade mais moderada do ritmo da corrida.
Nesta situação, passa a ter grande influência a chamada fadiga central, que nada mais é que a interpretação do cérebro a respeito do acúmulo progressivo de exercício que estamos fazendo. É como um cansaço decorrente até de certa monotonia do exercício muito prolongado. Este mecanismo tem enorme relação com a memória a curto prazo, que no caso da Diane está comprometida. Isto, com certeza explica a maior tolerância que ela adquiriu para as provas de longas distância.