sábado, 18 de janeiro de 2014

TTT 2014: expectativas, histórias e “não-conselhos” - por Daniela Santarosa

Crônica da jornalista e ultramaratonista Daniela Santarosa.

Faltando menos de 10 dias para uma das competições mais esperadas do Sul do país, a Travessia Torres-Tramandaí (TTT) – que chega na sua décima edição mais disputada do que nunca –, a ansiedade para as centenas de atletas que vão encarar a prova cresce a passos largos. Não consegui obter os dados de quantas pessoas estão inscritas em 2014, mas acredito que, em termos de quantidade e qualidade dos competidores, será um ano inesquecível.
Bem, para ser mais sincera (e sem querer aterrorizar, mas já aterrorizando), inesquecível sempre é. Seja pelo calor, pelo vento contra e areia fofa (vide a nona edição), pela alegria contagiante, pelos veranistas-torcedores, pelo espírito de equipe onipresente ou por histórias hilárias, como o prêmio que ganhei em 2012 ao vencer a prova: um troféu e UM pão de forma. Sério. Pelo menos era um “sete grãos”. Até hoje dou muitas risadas disso. Mas enfim, não é esse o intuito desse post. É falar sobre a carga de ansiedade que marca os dias (e, no caso de muitos, meses) pré-competição, e a impressão que tenho de tudo isso.ttt1
Planejei fazer pela última vez a prova, pelo menos na categoria solo. Já corri outras quatro vezes: duas sozinha, em 2013 e 2012, quando bati o recorde feminino da prova em ambos anos; em dupla, em 2011, quando também tive a alegria de erguer o troféu de primeiro lugar ao lado do Luciano D’Arriaga (que gentilmente cedeu sua vaga para mim neste ano, pois estará impossibilitado de correr devido a sua tese de mestrado. Ele coletará sangue dos ultramaratonistas antes e após os 82 quilômetros para analisar biomarcadores de lesão muscular). E outra vez em quarteto, bem mais light, mas igualmente bacana. Como viajei para o Japão no período de inscrições, desta vez comi mosca e…ixi, quase fico de fora! Mas enfim, até que provem ao contrário, vou lá dar uma de “camelo-pangaré-paraguaio” mais uma vez.
É natural que muita gente me pergunte como fazer para correr a TTT sozinho, ou em duplas. Qual o segredo, que tênis usar, como fazer a hidratação e alimentação adequada, entre outras manhas. Como não sou treinadora, mas já tenho uma boa experiência nesse tipo de desafio, sempre dou um ou outro toque, sempre com base na minha vivência, claro – que é muito baseada nos erros e acertos.
Para não cometer nenhum grave equívoco e também para não me meter de pato a ganso, meu conselho é: não dar muito conselho. Isso é muito individual e cabe aos especialistas. Até porque o que serve para mim, dificilmente funcionará num outro atleta. O tênis que uso, de quantas em quantas horas me alimento, etc, etc. Besteira achar que é uma fórmula pronta. Defendo o treino individualizado, baseado em uma série de variáveis analisadas com calma.
Olhando para trás, confesso que, na primeira vez que saí lá de Torres às 6h, não tinha noção do que estava fazendo. Já comecei errado, saindo quase 10 minutos atrás dos outros corredores – sim, até isso ocorreu. Todo mundo na praia e eu lá, pegando o chip na barraca com o Corpa. Tanto que, quando cruzei a linha de chegada em Imbé, explodi de felicidade. Estava em êxtase, tentando encontrar uma explicação para tal acontecimento. Ainda tenho amigos que olham para mim e perguntam: “como pode? Olhando para ti, nem dá para acreditar o que tu faz…”. Realmente, é meio insano, sim. Pegue o carro e faça mais de 80 quilômetros. Olhe a paisagem, veja quanto tempo demora. Agora imagine percorrer isso a pé, em menos de oito horas. Não, não é fácil pra ninguém. Quem diz que é moleza, estará mentindo. E feio.
Cada um tem um limite, e eu vivo testando o meu. Não sei se é um parafuso frouxo, autoestima em baixa, tendência suicida, cabeça dura ou qualquer outra patologia. Mas é um vício maldito. Confesso que deveria me preparar melhor para algumas provas, ouvir mais os conselhos e orientações de treinadores, fisiologistas, psiquiatras, nutricionistas e ortopedistas. Todo esse aparato só vem ajudar. Eu admiro quem consegue fazer tudo certinho, como manda o figurino. Porém, eu vou aprendendo no meu ritmo – e sempre fiz assim, desde a época que aprendi a surfar olhando os garotos e tomando onda na cabeça, engolindo muita água.
Para quem vai marcar presença na Travessia Torres-Tramandaí pela primeira vez, esteja certo que dia 25 de janeiro será um dia pra ficar na história. Para quem vai em duplas ou estrear na categoria solo, desejo muita sorte, porque a pedreira é braba. Espero que possa abraçar a todos amigos no final, ouvir inúmeras histórias emocionantes de superação, e, claro, contar algumas delas. Pelo que estou vendo, personagens incríveis não vão faltar.
Nos vemos em Torres – ou melhor, na Barra do Imbé!

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